depressão pós parto

DEPRESSÃO PÓS PARTO 
A gestação é um momento muito especial no ciclo de vida da mulher. Esse período traz consigo diversas alterações físicas, hormonais, psíquicas e sociais, que refletem diretamente na saúde mental feminina.
Nessa fase, é comum o aumento da ansiedade e o surgimento de questões que envolvem a representação da gestante como mãe e mulher, fantasias a respeito do filho e do seu futuro, antecipações das dificuldades profissionais e no relacionamento com o marido, além do medo da própria morte e/ou do bebê no parto.
Expor esses sentimentos e preocupações para a família e para os profissionais de saúde ajuda a esclarecer as dúvidas e a promover uma gravidez mais feliz e saudável.

Conhecer os transtornos psiquiátricos que podem ocorrer nesse período faz com que eles possam ser mais facilmente identificados e manejados de forma adequada pelo obstetra e pelo psiquiatra.

1 – Depressão Materna na Gestação

É uma condição que acomete 16% das gestantes. 70% delas têm sintomas depressivos confundidos com sintomas gestacionais, dificultando o diagnóstico. 68% das mulheres em tratamento para Depressão apresentam recaída caso interrompam o uso da medicação durante a gravidez e 25% delas, mesmo com a manutenção do tratamento, podem recair durante a gestação.
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da depressão na gravidez são: suporte social reduzido, uso de álcool, cigarro e outras drogas, baixo nível socioeconômico e social, gestação indesejada ou não planejada e transtorno psiquiátrico prévio.
As consequências desse transtorno incluem, entre outros, maior risco de complicações na gestação, no parto e no puerpério, restrição do crescimento fetal, baixo peso ao nascer, dificuldades de sono e alimentação no bebê, maior risco de suicídio e distúrbios de conduta no futuro.
Os casos mais leves podem ser manejados apenas com psicoterapia, enquanto os casos moderados e graves requerem também o uso de medicamentos antidepressivos. A eletroconvulsoterapia (ECT) pode ser uma opção nos casos extremos.
2 – “Baby Blues”, Tristeza Puerperal ou Disforia Puerperal
Ocorre em 50 a 85% nas mulheres no período puerperal* e caracteriza-se por ser transitório, com início nos primeiros dias após o parto, com remissão espontânea em até duas semanas.
Sintomas depressivos leves, incluindo instabilidade de humor, irritabilidade, choro fácil, fadiga, sensibilidade excessiva à rejeição e comportamento hostil com os familiares são os sintomas mais comuns. Está relacionado às rápidas alterações hormonais no período, ao estresse do parto e da responsabilidade trazida pela maternidade.
O manejo inclui suporte emocional e auxílio nos cuidados com o bebê.
3 – Depressão Pós-Parto
Ocorre em 10 a 15% das mães no período pós-parto. Tem início nas primeiras quatro semanas após o nascimento do bebê e se caracteriza por sintomas depressivos comuns (tristeza, choro fácil, desânimo, fadiga, redução da libido, alteração do sono e do apetite, prejuízo da memória e da concentração, irritabilidade, sentimentos de culpa), além de ansiedade, medo de ficar sozinha com o bebê e atitudes que variam do desinteresse pela criança (inclusive recusa em amamentar) até a preocupação excessiva com o filho.
Mulheres com transtornos de ansiedade e depressão durante a gestação, história de depressão pós-parto em gestações anteriores e história pessoal ou familiar de transtorno de humor têm maior risco de desenvolver a Depressão Pós-Parto.
O tratamento, em geral, inclui psicoterapia e o uso de medicamentos antidepressivos.
4 – Psicose Puerperal
Geralmente tem início nas duas primeiras semanas após o parto e pode surgir abruptamente ou na vigência de transtornos de humor. Nesses casos, a mulher apresenta comportamento desorganizado, delírios e alucinações envolvendo o bebê (ex: vozes que mandam matá-lo), o que aumenta o risco de suicídio e infanticídio.
Muitas vezes, torna-se necessária a restrição do contato entre mãe e bebê e a amamentação pode ser contraindicada.
O tratamento inclui o uso de medicações antipsicóticas e, em alguns casos, antidepressivos.
Bibliografia:
– O Ciclo da Vida Humana – Uma Perspectiva Psicodinâmica – Cláudio L. Eizirik, Ana Margareth S. (orgs.) Bassols  Ed. Artmed.
– Transtornos psiquiátricos na gestação e no puerpério: classificação, diagnóstico e tratamento. Revistra de Psiuiatria  Clínica. Camacho, R.S. et al. Vol. 33 (2); 92-102, 2006
– Compêndio de Psiquiatria – Kaplan e Sadock. Ed. Artmed.
'Acima da média' e políticas públicas
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a média de casos de depressão pós-parto em países de baixa renda é de 19,8%. De acordo com o estudo da Fiocruz, no Brasil o índice de mulheres com sintomas é de 26,3%, índice maior do que o registrado também em países da Europa, além de Estados Unidos e Austrália.
Para Mariza, a mensagem mais importante do estudo é a necessidade de que o governo monitore o problema no pré-natal e após o parto.
"Sem ter essa questão incorporada de fato e de forma sistemática à rotina do SUS, essas mulheres não são identificadas, e portanto não são tratadas. Estão soltas por aí, sofrendo com um problema que pode ter reflexos no desenvolvimento da criança e na saúde das mães", explica.
"Nosso trabalho vai ser lutar junto ao Ministério da Saúde para que as mulheres sejam testadas para depressão pós-parto e acompanhadas. Qualquer profissional da saúde pode aplicar o questionário e fazer a triagem, não é obrigatório que seja um psicólogo ou psiquiatra".
Para o ginecologista e obstetra Alexandre Faisal, professor da Faculdade de Medicina da USP no Departamento de Medicina Preventiva e um dos maiores pesquisadores da área no Brasil, o país ainda não tem políticas públicas suficientes.



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